Uma das marcas desta quarta edição do Ciclo de Debates é a participação de egressos do curso de Jornalismo em diferentes momentos da programação. Inclusive no encerramento dos debates, com café cultural e entrevista coletiva na manhã de quarta-feira (11/11). "O objetivo é criar uma interlocução mais forte entre meio acadêmico e profissional, com ganhos nos dois sentidos", explica o professor Rafael Schoenherr, coordenador da Incubadora de Projetos Jornalísticos.
Serviço
Unibrasil - IV Ciclo de Debates sobre Jornalismo e Novas Produções Universitárias
Rua Konrad Adenauer, 442, Tarumã, Curitiba (PR)
Período: 9 a 11 de novembro
Inscrições:
O evento segue até o dia 11 de novembro e as inscrições são gratuitas. Para se inscrever, basta encaminhar um e-mail com nome e RG para ciclo.debates@ymail.com. O evento volta-se a estudantes de jornalismo, comunicação e demais interessados em produção cultural e mídia.
Informações: http://4ciclodedebates.blogspot.com e http://twitter.com/ciclo_de_debate
Ou: http://intranet2.unibrasil.com.br/dev.php?system=extensao&action=cadastro.main&curCodigo=19
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Iniciativas paranaenses e cultura jovem
Na terça-feira (10/11), às 8h30, duas produções locais e de repercussão estadual e nacional orientam o debate "Estánarevista, Baby: expressão audiovisual independente". Articuladores das revistas Juliette e Lama, de crítica de cinema e fotonovela, respectivamente, comentam a viabilização de projetos editoriais independentes e a relação com a linguagem audiovisual. Egressos do curso de Jornalismo da UniBrasil convidados participam da mesa com o ponto de vista acadêmico e profissional sobre a questão.
Às 19h, também no auditório Cordeiro Clève, os debates se voltam para a cultura jovem e a mídia direcionada. Dialogam sobre formatos e iniciatiavas de interação com o público jovem Janine Furtado (Plug/RPC), Douglas Moreira (da ONG Ciranda) e Cristiano Freitas (Gazeta do Povo / Gazetinha).
Às 19h, também no auditório Cordeiro Clève, os debates se voltam para a cultura jovem e a mídia direcionada. Dialogam sobre formatos e iniciatiavas de interação com o público jovem Janine Furtado (Plug/RPC), Douglas Moreira (da ONG Ciranda) e Cristiano Freitas (Gazeta do Povo / Gazetinha).
Pesquisador lança livro sobre jornalismo cultural brasileiro
Na segunda-feira (9/11), às 19h, o jornalista e professor Sérgio Luiz Gadini lança em Curitiba, no mesmo auditório, o livro “Interesses Cruzados: a produção da cultura no jornalismo brasileiros” (ed. Paulus). O pesquisador faz palestra sobre as características do jornalismo cultural brasileiro – tema de seu doutorado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). A obra identifica o polêmico jogo de atores do campo cultural e do jornalismo que interagem na articulação de pautas, reportagens e olhares sobre a produção cultural nas páginas dos principais jornais do país. O livro estará disponível para venda.
Ciclo debate Jornalismo e Diversidade Cultural
A partir do dia 9 de novembro, segunda-feira, a Incubadora de Projetos Jornalísticos das Faculdades Integradas do Brasil (UniBrasil) promove o IV Ciclo de Debates sobre Jornalismo e Novas Produções Universitárias. O tema desta edição é Jornalismo e Diversidade Cultural, com discussões relacionadas a formatos jornalísticos que retratam e expressam a produção cultural, como cadernos de cultura, revistas, programas direcionados e iniciativas editoriais. Mesas de debate, lançamento de livro, palestra, entrevista coletiva e oficinas integram a programação.
A inscrição por email (ciclo.debates@ymail.com) ou pela página da UniBrasil (www.unibrasil.com.br) confere direito a certificado mediante participação.
O evento conta na abertura, às 8h30, no auditório Cordeiro Clève, com a jornalista Paula Nadal, da revista Bravo! e da Editora Abril, e com Allan Johan, da revista Lado A, de Curitiba. Eles conversam sobre o tema Palavras Segmentadas e Revistas Cruzadas. Entrada livre.
A inscrição por email (ciclo.debates@ymail.com) ou pela página da UniBrasil (www.unibrasil.com.br) confere direito a certificado mediante participação.
O evento conta na abertura, às 8h30, no auditório Cordeiro Clève, com a jornalista Paula Nadal, da revista Bravo! e da Editora Abril, e com Allan Johan, da revista Lado A, de Curitiba. Eles conversam sobre o tema Palavras Segmentadas e Revistas Cruzadas. Entrada livre.
Onde começou a Lama
Por Rodrigo Bortot
1-Como surgiu a ideia da revista Lama?
A Lama nasceu, inicialmente, de uma simples ideia de uma revista de fotonovelas.
A partir disso, foram sendo agregados diversos tipos de produções que caminham nessa similaridade, surgindo então uma revista de literatura que contará estórias através de imagens e narrativas. Uma tendência atual de usar a imagem em primeiro plano. Contos curtos, que poderão ser lidos entre um ponto e outro do metrô. De um terminal de ônibus ao outro. No caminho da faculdade ou do Trabalho.
Lama é uma linguagem veloz para uma realidade multi informativa.
2- Qual é o objetivo de vocês lançando uma revista pulp?
Hoje, o gênero está permutado e misturado na cultura pop na forma de inúmeros sites, blogs e séries de tv. Crônica e fantasia se confundem numa realidade caótica que caminha na fronteira entre realidade e sonho. A internet trouxe a realidade virtual até nós. Zona limítrofe onde podemos viver situações imaginárias e visitar os não-lugares configurados por números intelectivos.
A miscelânea cultural, impressa e virtual, abriga desde os cronistas do cotidiano quanto aqueles que se aventuram pelos labirintos das estórias fantásticas; universo particular de criaturas e não-lugares.
Desta forma, o que trazemos para as mãos da cultura brasileira, talvez renascendo das antigas fotonovelas, é um esforço coletivo cuja intenção é promover e instigar a produção de uma literatura pulp nacional.
3- As histórias tem algo verídico ou são meramente ficcionais?
Excepcionalmente ficcionais. Podem expressar realismo, mas não se trata de realidade.
4-Na opinião de vocês esse "mercado pulp" no Brasil é rentável?
Completamente rentável. Basta ver o que a Companhia das Letras edita e publica os livros de Lourenço Mutarelli, constantemente. Que as publicações de Raymond Chandler (pela LPM e Record) sempre esgotam nas livrarias. E que Dalton Trevisan lança, pelo menos, dois livros por ano.
5-Como foi o processo temático para a criação das histórias? Teve alguma pesquisa prévia?
Cada autor tem sua pesquisa e universo próprio. A Lama é essa reunião de pensares, dando a cada um, liberdade total de expressão.
6-O que o público pode esperar das próximas edições?
Muita Lama!
Criatividade, talentos revelados, outros com expressão nacional contribuindo.... e sempre, o apuramento gráfico como apresentado na 1ª edição.
A 2º edição, além disso, terá uma grande surpresa ao público do pulp. A presença de um escritor mitológico.
7-A intenção da revista lama é "transportar" o leitor há um mundo inimaginário, algo entre o real e o sonho?
Tratamos a Lama como uma reunião de contos de terror, suspense ou realismo fantástico com completa liberdade temática, englobando temas muito diversos, ricos em literatura, repleto de criaturas, psicopatas, vampiros e detetives.
Do horror ao suspense. Do realismo fantástico ao absurdo imaginável.
1-Como surgiu a ideia da revista Lama?
A Lama nasceu, inicialmente, de uma simples ideia de uma revista de fotonovelas.
A partir disso, foram sendo agregados diversos tipos de produções que caminham nessa similaridade, surgindo então uma revista de literatura que contará estórias através de imagens e narrativas. Uma tendência atual de usar a imagem em primeiro plano. Contos curtos, que poderão ser lidos entre um ponto e outro do metrô. De um terminal de ônibus ao outro. No caminho da faculdade ou do Trabalho.
Lama é uma linguagem veloz para uma realidade multi informativa.
2- Qual é o objetivo de vocês lançando uma revista pulp?
Hoje, o gênero está permutado e misturado na cultura pop na forma de inúmeros sites, blogs e séries de tv. Crônica e fantasia se confundem numa realidade caótica que caminha na fronteira entre realidade e sonho. A internet trouxe a realidade virtual até nós. Zona limítrofe onde podemos viver situações imaginárias e visitar os não-lugares configurados por números intelectivos.
A miscelânea cultural, impressa e virtual, abriga desde os cronistas do cotidiano quanto aqueles que se aventuram pelos labirintos das estórias fantásticas; universo particular de criaturas e não-lugares.
Desta forma, o que trazemos para as mãos da cultura brasileira, talvez renascendo das antigas fotonovelas, é um esforço coletivo cuja intenção é promover e instigar a produção de uma literatura pulp nacional.
3- As histórias tem algo verídico ou são meramente ficcionais?
Excepcionalmente ficcionais. Podem expressar realismo, mas não se trata de realidade.
4-Na opinião de vocês esse "mercado pulp" no Brasil é rentável?
Completamente rentável. Basta ver o que a Companhia das Letras edita e publica os livros de Lourenço Mutarelli, constantemente. Que as publicações de Raymond Chandler (pela LPM e Record) sempre esgotam nas livrarias. E que Dalton Trevisan lança, pelo menos, dois livros por ano.
5-Como foi o processo temático para a criação das histórias? Teve alguma pesquisa prévia?
Cada autor tem sua pesquisa e universo próprio. A Lama é essa reunião de pensares, dando a cada um, liberdade total de expressão.
6-O que o público pode esperar das próximas edições?
Muita Lama!
Criatividade, talentos revelados, outros com expressão nacional contribuindo.... e sempre, o apuramento gráfico como apresentado na 1ª edição.
A 2º edição, além disso, terá uma grande surpresa ao público do pulp. A presença de um escritor mitológico.
7-A intenção da revista lama é "transportar" o leitor há um mundo inimaginário, algo entre o real e o sonho?
Tratamos a Lama como uma reunião de contos de terror, suspense ou realismo fantástico com completa liberdade temática, englobando temas muito diversos, ricos em literatura, repleto de criaturas, psicopatas, vampiros e detetives.
Do horror ao suspense. Do realismo fantástico ao absurdo imaginável.
Adoção positHIVa

Por Bruna Nicz
Os efeitos da aids na vida de crianças e adolescentes brasileiros são devastadores. A doença afeta a saúde dessa população quando são infectados pelo HIV através da mãe e compromete sua estrutura familiar quando ficam órfãos em decorrência da aids. Pensando nisso a jornalista e escritora Dayane Carvalho produziu o livro-reportagem “Adoção PositHIVa” que retrata a dificuldade que crianças e adolescentes abrigados em casas de apoio de Curitiba enfrentam na adoção por serem portadores do HIV.
“Alguns deles são órfãos, outros foram abandonados pela família”, afirma Carvalho que mostra em seu livro que o processo de adoção para eles representa a esperança de uma vida nova, a possibilidade de reconstruir ou construir uma família, onde serão amados e poderão conviver com o HIV de uma forma mais feliz.
Entretanto, adoções de crianças portadoras de HIV/aids são muito raras, as de adolescentes mais ainda. O Adoção PositHIVa apresenta-se como uma fonte de informação sobre a adoção,a aids e as possibilidades quando esse fatores se encontram. Além de informar o livro visa quebrar as barreiras que impedem uma ADOÇÃO POSITIVA!
'Cultura é o que nos torna humanos de fato'
Entrevista com a jornalista Paula Nadal, da Revista Bravo e da Editora Abril, que abre o IV Ciclo de Debates, na segunda-feira (9/11), às 8h30, na UniBrasil, em Curitiba.
1 - As revistas de cultura estão muito segmentadas no país ou são abrangentes?
A cultura deste país é segmentada e as revistas parecem apenas reproduzir este quadro. Quando se fala em cultura logo vem à mente uma certa “erudição” que insiste em colocar o termo em um patamar ‘acima do humano’, que insiste em separar alta de baixa cultura, quando na verdade a cultura é o que nos torna humanos de fato; é o que nos confere identidade. Cultura se dá quando simbolizamos nossas ideias e relações e isso é muito mais abrangente do que a ideia de arte. A arte faz parte da cultura. E neste caso, podemos afirmar que todo jornalismo é cultural e, portanto, segmentado, como forma de organização. Não é possível abraçar o mundo e no jornalismo é preciso escolher um público para o qual falar.
No caso da BRAVO!, ela se propõe como uma revista cultural voltada para as artes. Há editorias bem definidas – cinema, teatro, música, artes plásticas, literatura, dança. Tentamos a maior abrangência possível, mas nem sempre os recursos nos permitem. O que se tem produzido, no caso específico desta publicação, são especiais – mais uma vez segmentados, mas que fazemos circular nas principais praças do país – sobre cultura regional, como uma tentativa mais eficaz de tratar de alguns assuntos que, por diversos motivos, não conseguem espaço nos veículos nacionais, mas que merecem ser abordados por uma revista considerada um dos pilares do jornalismo cultural do país.
2 - De que modo, na tua avaliação, as revistas lidam com a diversidade cultural brasileira? A cultura regional tem espaço?
Me questionei durante muito tempo (e ainda me questiono) sobre isso. Achava um absurdo que as publicações nacionais não trouxessem informações a respeito daquilo que acontecia no meu estado ou na minha cidade. Mas quando você chega à redação e vê como as coisas funcionam, você passa a reavaliar. Há vários motivos para as manifestações regionais não aparecerem nos veículos nacionais: 1) os grandes espetáculos usualmente acontecem nas metrópoles. Basta ver os dados da Lei Rouanet. Mais de 70% dos recursos aprovados são destinados à região sudeste; 2) o eixo Rio-São Paulo é o principal eixo vendedor de revistas; 3) é caro para uma revista manter colaboradores no país inteiro para falar de um regional que nem sempre tem qualidade equivalente e relevância nacional.
No caso da BRAVO!, por exemplo, sou a responsável pela edição da agenda de música clássica. Todos os meses me deparo com as programações das mais diferentes orquestras. A OSINPA, aí do Paraná, as Orquestras do Espírito Santo, Brasília, Sergipe. A relevância das atrações raramente são comparáveis ao que acontece no Rio ou em São Paulo. Mas há exceções. O Festival Amazonas de Ópera, por exemplo. Alguns festivais que acontecem em cidades do interior. E aí faço questão de incluir.
O outro ponto desta história é a mídia regional. Mídia regional tem que ser séria para assumir a identidade cultural daquele local. Há boas ações em todos os cantos que precisam ser valorizadas e as mídias regionais são os canais para isso. Mas só quem faz sabe o quanto é difícil manter. Neste caso, as mídias digitais ajudam muito. Mas sobre isso a gente fala na pergunta 5.
3 - Como você foi parar na editora Abril e fez, inclusive, matéria de capa para a Bravo?
Fui selecionada para participar do Curso Abril de Jornalismo em 2007. É um curso de um mês oferecido pela Editora, cuja seleção envolve candidatos de todo o país.
Depois de ter acabado o curso acabei fazendo alguns trabalhos para a Editora como freelancer. Fiz textos para a Manequim, Planeta Sustentável, Superinteressante, Nova Escola. Até que fui contratada por uma área corporativa da Abril para cuidar de toda a comunicação de um projeto ligado à sustentabilidade. Mas, dentro da Abril você acaba conhecendo as demais redações – todas funcionam em um só prédio. E o diretor de redação da BRAVO!, o João Gabriel de Lima , perguntou ao então diretor do Curso Abril de Jornalismo – e não por acaso meu chefe – se havia um ex-Curso Abril que entendesse de música clássica. Como estudo música desde os 5 anos e toco violino desde os 9, 10 anos, fui indicada para fazer uma matéria. Aí, não parei mais. E lá se vão quase dois anos de colaborações para a BRAVO!.
4 - O que se exige do jornalista que trabalha com cultura?
Que ele tire os pés da redação e viva a cultura, sem dúvidas. Se você pode marcar uma entrevista ao vivo, marque, sempre. Se você escreve sobre música vá a shows, a concertos, mesmo naqueles que você não goste ou não conheça tanto. Sempre há algo para descobrir. Leia publicações especializadas, livros, panfletos. Leia tudo! Cultive suas fontes. Vá atrás dos bons lançamentos. É preciso investir para ter algum retorno. E o jornalista de cultura tem de saber exatamente qual a dimensão daquilo que diz. Tem que ter responsabilidade.
Não necessariamente um “jornalista cultural” tem de ser um especialista no assunto sobre o qual escreve (como ser cineasta para falar de cinema, ou músico para falar de música). Mas é preciso bom senso e humildade para perguntar aos especialistas aquilo que não se sabe. Mais uma vez, é preciso viver a própria cultura para entendê-la.
5 - Que possibilidades as mídias digitais abrem para o jornalismo cultural?
Internet é ferramenta fundamental, mas jamais o jornalista deve ser refém da internet ou das assessorias de imprensa. Especialmente quando se trata de algo tão sublime e tão identitário quanto cultura.
Mas é evidente que o uso das mídias digitais tornou-se um meio muito eficaz de descobrir e difundir cultura. O fácil acesso a manifestações culturais de inúmeras regiões, as possibilidades multiplicadas de difusão das informações. Isso tudo é fantástico e precisa ser aproveitado. Estamos na era da cultura das mídias digitais e não há como retornar. Eu fico muito feliz com isso, porque de outra maneira, não conseguiria ver facilmente um concerto da Filarmônica de Berlim em tempo real, nem poderia comprar uma série de discos importados em pré-lançamento, nem poderia avaliar o talento de uma série de artistas que desconheço – o que muda completamente quando posso acessar o youtube, o myspace ou outros tantos canais...
Quanto a possibilidades objetivas de uso, simplesmente não vejo mais um texto de revista sem pensar no conteúdo extra que pode ser colocado na rede. Posso pensar em vídeos, música, fotos, podcasts, jogos, testes. Posso pensar em colaborativismo, e aí voltamos à história do jornalismo regional, porque você pode compartilhar todas as informações via web, com todos os gadgets que estão à nossa disposição. As mídias digitais só abrem caminhos. Mas é preciso ter cautela, porque a terra que é de todo mundo, é terra de ninguém. Critério e bom senso são essenciais.
1 - As revistas de cultura estão muito segmentadas no país ou são abrangentes?
A cultura deste país é segmentada e as revistas parecem apenas reproduzir este quadro. Quando se fala em cultura logo vem à mente uma certa “erudição” que insiste em colocar o termo em um patamar ‘acima do humano’, que insiste em separar alta de baixa cultura, quando na verdade a cultura é o que nos torna humanos de fato; é o que nos confere identidade. Cultura se dá quando simbolizamos nossas ideias e relações e isso é muito mais abrangente do que a ideia de arte. A arte faz parte da cultura. E neste caso, podemos afirmar que todo jornalismo é cultural e, portanto, segmentado, como forma de organização. Não é possível abraçar o mundo e no jornalismo é preciso escolher um público para o qual falar.
No caso da BRAVO!, ela se propõe como uma revista cultural voltada para as artes. Há editorias bem definidas – cinema, teatro, música, artes plásticas, literatura, dança. Tentamos a maior abrangência possível, mas nem sempre os recursos nos permitem. O que se tem produzido, no caso específico desta publicação, são especiais – mais uma vez segmentados, mas que fazemos circular nas principais praças do país – sobre cultura regional, como uma tentativa mais eficaz de tratar de alguns assuntos que, por diversos motivos, não conseguem espaço nos veículos nacionais, mas que merecem ser abordados por uma revista considerada um dos pilares do jornalismo cultural do país.
2 - De que modo, na tua avaliação, as revistas lidam com a diversidade cultural brasileira? A cultura regional tem espaço?
Me questionei durante muito tempo (e ainda me questiono) sobre isso. Achava um absurdo que as publicações nacionais não trouxessem informações a respeito daquilo que acontecia no meu estado ou na minha cidade. Mas quando você chega à redação e vê como as coisas funcionam, você passa a reavaliar. Há vários motivos para as manifestações regionais não aparecerem nos veículos nacionais: 1) os grandes espetáculos usualmente acontecem nas metrópoles. Basta ver os dados da Lei Rouanet. Mais de 70% dos recursos aprovados são destinados à região sudeste; 2) o eixo Rio-São Paulo é o principal eixo vendedor de revistas; 3) é caro para uma revista manter colaboradores no país inteiro para falar de um regional que nem sempre tem qualidade equivalente e relevância nacional.
No caso da BRAVO!, por exemplo, sou a responsável pela edição da agenda de música clássica. Todos os meses me deparo com as programações das mais diferentes orquestras. A OSINPA, aí do Paraná, as Orquestras do Espírito Santo, Brasília, Sergipe. A relevância das atrações raramente são comparáveis ao que acontece no Rio ou em São Paulo. Mas há exceções. O Festival Amazonas de Ópera, por exemplo. Alguns festivais que acontecem em cidades do interior. E aí faço questão de incluir.
O outro ponto desta história é a mídia regional. Mídia regional tem que ser séria para assumir a identidade cultural daquele local. Há boas ações em todos os cantos que precisam ser valorizadas e as mídias regionais são os canais para isso. Mas só quem faz sabe o quanto é difícil manter. Neste caso, as mídias digitais ajudam muito. Mas sobre isso a gente fala na pergunta 5.
3 - Como você foi parar na editora Abril e fez, inclusive, matéria de capa para a Bravo?
Fui selecionada para participar do Curso Abril de Jornalismo em 2007. É um curso de um mês oferecido pela Editora, cuja seleção envolve candidatos de todo o país.
Depois de ter acabado o curso acabei fazendo alguns trabalhos para a Editora como freelancer. Fiz textos para a Manequim, Planeta Sustentável, Superinteressante, Nova Escola. Até que fui contratada por uma área corporativa da Abril para cuidar de toda a comunicação de um projeto ligado à sustentabilidade. Mas, dentro da Abril você acaba conhecendo as demais redações – todas funcionam em um só prédio. E o diretor de redação da BRAVO!, o João Gabriel de Lima , perguntou ao então diretor do Curso Abril de Jornalismo – e não por acaso meu chefe – se havia um ex-Curso Abril que entendesse de música clássica. Como estudo música desde os 5 anos e toco violino desde os 9, 10 anos, fui indicada para fazer uma matéria. Aí, não parei mais. E lá se vão quase dois anos de colaborações para a BRAVO!.
4 - O que se exige do jornalista que trabalha com cultura?
Que ele tire os pés da redação e viva a cultura, sem dúvidas. Se você pode marcar uma entrevista ao vivo, marque, sempre. Se você escreve sobre música vá a shows, a concertos, mesmo naqueles que você não goste ou não conheça tanto. Sempre há algo para descobrir. Leia publicações especializadas, livros, panfletos. Leia tudo! Cultive suas fontes. Vá atrás dos bons lançamentos. É preciso investir para ter algum retorno. E o jornalista de cultura tem de saber exatamente qual a dimensão daquilo que diz. Tem que ter responsabilidade.
Não necessariamente um “jornalista cultural” tem de ser um especialista no assunto sobre o qual escreve (como ser cineasta para falar de cinema, ou músico para falar de música). Mas é preciso bom senso e humildade para perguntar aos especialistas aquilo que não se sabe. Mais uma vez, é preciso viver a própria cultura para entendê-la.
5 - Que possibilidades as mídias digitais abrem para o jornalismo cultural?
Internet é ferramenta fundamental, mas jamais o jornalista deve ser refém da internet ou das assessorias de imprensa. Especialmente quando se trata de algo tão sublime e tão identitário quanto cultura.
Mas é evidente que o uso das mídias digitais tornou-se um meio muito eficaz de descobrir e difundir cultura. O fácil acesso a manifestações culturais de inúmeras regiões, as possibilidades multiplicadas de difusão das informações. Isso tudo é fantástico e precisa ser aproveitado. Estamos na era da cultura das mídias digitais e não há como retornar. Eu fico muito feliz com isso, porque de outra maneira, não conseguiria ver facilmente um concerto da Filarmônica de Berlim em tempo real, nem poderia comprar uma série de discos importados em pré-lançamento, nem poderia avaliar o talento de uma série de artistas que desconheço – o que muda completamente quando posso acessar o youtube, o myspace ou outros tantos canais...
Quanto a possibilidades objetivas de uso, simplesmente não vejo mais um texto de revista sem pensar no conteúdo extra que pode ser colocado na rede. Posso pensar em vídeos, música, fotos, podcasts, jogos, testes. Posso pensar em colaborativismo, e aí voltamos à história do jornalismo regional, porque você pode compartilhar todas as informações via web, com todos os gadgets que estão à nossa disposição. As mídias digitais só abrem caminhos. Mas é preciso ter cautela, porque a terra que é de todo mundo, é terra de ninguém. Critério e bom senso são essenciais.
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