sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Entrevista sobre Juliette Revista de Cinema, com Josiane Orvatich, editora e diretora de produção



Por Stefhany Zgoda

1 -Como a Juliette conseguiu fazer uma revista especializada em Curitiba?
Creio que a cidade, especificamente, onde se produz a revista não é a questão principal. Claro que, nosso cenário curitibano estando propício e receptivo à revista, tanto melhor. Mas mais importante é, realmente, fazer uma revista de qualidade e diferente, capaz de conquistar o público de todo o País. Uma revista especializada sempre terá que lidar com a especificidade do seu público, ou seja, um público mais restrito do que encontra uma revista que inclui outras artes, ou mesmo notícias. O trabalho de divulgação precisa ser bastante direcionado.

2-Como está sendo a repercussão da revista?
Muito boa. Realmente me surpreendi desde a primeira edição, a 000, de junho de 2008. Muitos leitores comentam que sentiam falta de uma publicação neste estilo, com mais reflexão sobre o cinema. Temos venda da Juliette por todo o País, desde Rio Grande do Sul, passando por São Paulo, Rio de Janeiro, BH, Brasília, até Recife e Teresina, além claro, de Curitiba e interior do Paraná.

3-O que mudou nestas edições das edições iniciais?
A prática para fazê-la. Uma revista mensal demanda uma dedicação exclusiva. É preciso estar, diariamente, trabalhando em algum aspecto da revista. Esta prática contribui para a qualidade do que publicamos. Cada vez mais você se torna íntimo daquele trabalho, e pode, por isso, melhorá-lo, ser mais criativo, mais atento. Fisicamente, a revista deixou de ter capa em serigrafia e interior em impressão digital, para ser impressa em gráfica.

4-Como é o cenário do mercado em Curitiba para esta revista?

Em Curitiba a receptividade é muito boa. Além de muitos críticos paranaenses colaborarem na revista, sinto que as pessoas, colaboradores e público, se orgulham de tê-la reconhecida nacionalmente. Sempre, desde o início da revista, tive como meta que ela só existisse se realmente tivesse interlocutores – daí minha recusa inicial de começá-la por leis de incentivo, que me possibilitariam imprimir a revista, distribuí-la, mas sem efetivamente perceber se o “mercado/leitores” a queriam. Esta comunicação com o público leitor e com os colaboradores vem acontecendo de forma surpreendente, o que nos faz agora, querer aumentar sua tiragem, que se encontra em 1.000 exemplares (começamos com 200). Só não aumentamos ainda, por dificuldades financeiras. Infelizmente, uma das dificuldades encontradas é a falta de interesse local de se fazer publicidade na revista, uma vez que ela é considerada “sofisticada”, “pouco popular”, como alguns potenciais patrocinadores nos disseram. O que, creio, é uma visão distorcida do que são as vontades do público.

5-Qual a relevância desta revista, é só para aficionados em cinema?
Nosso público não precisa ser, necessariamente, aficionado por cinema, mas é preciso ter interesse por arte, cultura. Ter interesse em refletir sobre os temas que as artes apresentam, não somente o cinema, mas a literatura, a pintura, a fotografia. A relevância de qualquer revista direcionada à cultura, acredito, é fazer uma crítica diferente das resenhas jornalísticas, muitas vezes interessadas em guiar o gosto do público, concedendo notas aos filmes, por exemplo. Nosso interesse é refletir sobre cinema e não tratá-lo meramente como produto. Há filmes feitos com esta intenção, e mesmo isto pode gerar uma boa reflexão. O cinema nasceu em meio às questões da cultura de massa, do crescimento das cidades, da multidão. Ele carrega, em si, esta contradição do entretenimento x arte. Porém, para além desta ambiguidade queremos estabelecer, sempre, o trabalho emocional e reflexivo da crítica com seu leitor.

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